ano: 2021


Era uma vez...

Uma fábula que tinha
Um pote de mel e muito sal,
Um ninho com uma andorinha,
Uma quimera e um pardal.

Que paixão tão bela, a dos passarinhos
Como se coisas maiores fossem prováveis!
Que chilrear tão doce, o dos papelinhos
Que levam recados urgentes e formidáveis.

Ele tinha boas sementes de marido
E ela o poder da carochinha à janela!
Era perfeito o que astros tinham unido:
Um Príncipe grego e uma Cinderela!

Tão bem que se dão os seus santinhos
Sob fumos quentes, estrelas e o luar!
Tanto se pediram a Deus, os passarinhos,
E agora este não os quer sacramentar!

Era uma terra fértil, quente e molhada,
Coberta de sorrisos, toros de lenha e fé,
Que ardeu alegre até não ficar nada
Além de chávenas vazias de tudo e café!

Era só um trago, um salto na fogueira,
Um enigma inocente, apenas mais um,
Como quem não quer levantar poeira
Ou chegar prometido a lado algum!

Se não sou teu ou tu és minha,
É porque o destino tinha por missão
Costurar embriagado com forte linha
Uma nódoa de rum naquela paixão!

Sol de Março

Ah! O teu porte, o teu olhar...
Poção potente, suave aguardente,
Videira brava de um antigo pomar
Onde estivemos por acidente
Uma manhã inteira a vindimar!

O céu caiu ali de repente
E o pomar viu tremer o chão,
Que sob um sol muito quente,
Aguça uma cálida atração
Que se enleva descontente!

Este sol de Março, incendeia!
Luxúria a ferro e fogo e uma teia
Prendem-me a não sei o quê…
Talvez porque ela encandeia:
A paixão cega que não se vê!